14 novembro 2014

Seixal Jazz 2014


Com a melhor programação dos últimos anos, o Seixal Jazz procura reocupar o lugar cimeiro que já ocupou entre os festivais de Jazz nacionais. À programação, dividida, como vem ocorrendo, entre Paulo Gil e Pedro Costa, o Seixal Jazz acrescentou este ano dois concertos de programação nacional própria: o clássico trio de Mário Laginha e o Lokomotiv de Carlos Barretto acrescido do saxofone de Ricardo Toscano; dois concertos onde as expectativas seriam sempre elevadas.
De acordo com o novo modelo os concertos começam às 21.30 e têm dois sets.
Não assisti, por razões alheias à minha vontade, aos concertos de músicos portugueses.



Craig Taborn Trio



Sempre que revejo Craig Taborn relembro a primeira vez que o vi tocar, há muitos anos, em Cascais, integrado no grupo de James Carter.
Quão diferente era a música fulminante do pianista de Carter e a música que Taborn vem tocando, e mais ainda a que podemos ouvir nos dois recentes discos para a ECM, Avenging Angel (piano solo) e Chants (em trio).
A música que Craig Taborn tocou no Seixal revelou o engenho e a minúcia do joalheiro, na manipulação dos elementos que o formato trio admite, e diria mais, na relação temerária entre escrita e composição, entre o silêncio e as intrincadas harmonias com que ao longo de duas horas presenteou a plateia.
Música de grande exigência, Craig Taborn confirmou porque é um dos grandes pianistas da actualidade; não apenas do ponto de vista técnico, mas do ponto de vista conceptual, na luxúria das ideias e na modernidade que não transinge com experimentalismos.
Notáveis também, Thomas Morgan, o contrabaixista, gémeo no rigor e na inventiva, e JT Bates, que substituiu Gerald Cleaver, o bateria regular do trio, mas que se adaptou bastante bem ao colectivo.
Excelente, este arranque do Seixal Jazz.

Louis Sclavis Atlas Trio 



O concerto de Louis Sclavis foi uma desilusão. Não se percebe este Atlas Trio. Os discos (do Atlas) eram desinteressantes, mas eu tinha ainda assim alguma expectativa neste concerto, dado o gigante do saxofone que Sclavis é. O pianista e o guitarrista tiveram uma postura diletante e frívola e o próprio Sclavis, um saxofonista vulcânico esteve sempre desinspirado.


Ambrose Akinmusire Quintet



Akinmusire é um trompetista fabuloso; o controle que possui do instrumento está ao nível dos mais lendários músicos de Jazz. Mas ele é também um compositor bastante original, que entende as composições não apenas como argumentos, como é de certa forma a rotina no Jazz, mas como pequenas sinfonias, verdadeiras composições com princípio, meio e fim, mas também com diferentes instrumentações e referenciais.
Não era possível trazer para o palco do Seixal todo o The Imagined Savior is Far Easier to Paint editado já este ano, e que foi objecto da atenção no concerto; o disco contava com três cantores diferentes em três diferentes temas, mas também guitarra e um quarteto de cordas, oferecendo-lhe um cariz de «pop culta» a que o concerto do Seixal escapou.
O quinteto – que já rola na estrada há pelo menos dois anos – arrancou para um dos temas mais «populares» do CD de 2011, «My Name is Oscar» de When the Heart Energews Glistening, e creio que apenas terá tocado um outro tema - «Regret No More» - deste disco.
Outros temas foram «Rollcall for Those Absent», «As We Fight», «Marie Christie», «The Beauty of Dissolving Portraits» e outros de 2014.
Os músicos - um quinteto de músicos superlativos - raramente se evidenciam, com excepção talvez para ele mesmo Ambrose Akinmusire e o saxofone, submetidos a composições muito severas na forma; em prejuízo, por vezes, da emoção. Mas entre a força de «My Name is Oscar», um libelo irado ao racismo, e a poesia de «Marie Christie», há um mundo.
O público rendeu-se à beleza e à exigência da música, obrigando os músicos a regressar para dois encores.

O Seixal Jazz está de volta!

10 de Novembro de 2014.

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